SEGUE O SOM #10

Entrevista com TUYO | Pente Fino | Rachel Reis e mais...

SOS #10 | Pesquisa de satisfação

Décima semana seguida de SOS! Obrigado por acreditar nessa :) O que você tem achado? Acredita que dá pra melhorar algo? Responde esse email aqui com a sua sugestão!

🪮 PENTE FINO
Seleção dos principais lançamentos da semana.

[single] Xande de Pilares - Banho de Folhas
Incrível como o Xande consegue imprimir identidade nas suas releituras. “Banho de Folhas” conquistou o Brasil na voz da Luedji Luna, mas na voz do sambista ganhou novos sentidos. A versão está mais pra cima, mais alegre e me deixou curioso para o caminho que ele está trilhando.

[álbum] Budah - Púrpura
Budah é uma das minhas cantoras favoritas e apesar de estar na cena faz tempo, só lançou seu primeiro álbum agora. Com bastante R&B, o destaque fica com “Ninguém Vai Te Superar”, música que era hit e nem mesmo havia sido lançada.

[single] Puterrier ft. DJ Ramon Sucesso - Cardume
Na mistura do funk com atabaque, o Puterrier tem um estilo muito único que o diferencia dos demais. A parceria com o DJ Ramon Sucesso, o rei das distorções sonoras com graves fortes, misturando ritmos como o funk e o trap, deu muito certo e temos um possível novo hit na pista.

[single] Tom Karabachian ft. Chico César - Eu Vivendo Nossa Vida
Acompanho a carreira do Tom faz tempo e acho que esse novo single é minha música favorita dele. Gostei que ele se arriscou em um forró e a participação do Chico César foi muito certeira. As vozes casaram bem e em prol da canção.

[álbum] TUYO - Quem Eu Quero Ser
A TUYO lançou um álbum voltado para o público infantil, mas se engana quem pensa que o trabalho é bom somente para os baixinhos. A sonoridade é bem característica do trio: aquela mistura de alternativo, sintetizadores e composições inteligentes. Vale conferir.

💬 ENTREVISTA EXCLUSIVA
TUYO: também para baixinhos

crédito: Lucas Nery

O ano tem sido de bastante trabalho para a TUYO. Trio formado por Lio, Lay e Machado, lançaram “Paisagem” em abril, um dos álbuns mais legais do ano, com uma sonoridade muito característica, ótimas composições e participações incríveis. Agora a novidade é “Quem Eu Quero Ser”, um disco voltado para o público infantil, mas que ainda preserva a essência do grupo. Fizemos uma ótima entrevista sobre estes dois trabalhos, confira abaixo.

Ainda em 2024 vocês lançaram “Paisagem”, um dos meus álbuns favoritos do ano. Gosto dele na íntegra, mas curiosamente tenho carinho pelas três faixas com feats: JOCA, Arthur Verocai e Luedji Luna. Podem me contar como se deram essas parcerias por favor?

Muito gostoso que essas três sejam as suas favoritas. Acredito que elas são as mais emblemáticas quando a gente se pergunta sobre o que que é o “Paisagem”. “Devagar”, “Apazigua” e “Paisagem” sintetizam liricamente a mensagem maior desse álbum! Com o Joca, nós desenvolvemos uma amizade de muita proximidade, cumplicidade na hora de pensar disco, música, vida, relacionamentos… Tivemos a sorte dele dar atenção pra gente depois que descobrimos “A Salvação é Pelo Risco”, disco dele de 2019 que só chegou na gente na pandemia. Ficamos obcecados pelo trabalho e fomos nos aproximando. Hoje participamos da vida um do outro e foi natural que ele viesse pro disco. Num desses papos aqui em casa sobre o que cada um anda fazendo, botamos “Devagar” pra tocar e foi instantâneo. Joca começou a desenhar versos em cima, como quem brinca com a faixa, e ali ele tornou impossível pra nós fazer “Devagar” sem ele.

Com a Luedji alguma coisa parecida aconteceu, isso de ser promovido do lugar de grande admiradores e fãs maiores pra um lugar em que a gente pode chamar Luedji de amiga. Quando escrevemos “Paisagem” filosofando sobre essa sensação de bem-estar, de estar em paz consigo mesma, fomos fazendo paralelos com artistas que dominam essa arte e o nome da Luedji enquanto letrista e intérprete apareceu na cabeça de todo mundo ao mesmo tempo. “Bom Mesmo É Estar Debaixo D’água” é um dos maiores discos de todos os tempos na nossa visão e ele é carregado dessa investigação de alma em busca de um lugar pra si no mundo, pro amor, pro próprio corpo. Acabamos usufruindo dessa amizade pra trazer pro disco a maior compositora quando o assunto é esse tipo de investigação.

Com o Verocai foi um milagre, uma brecha, uma oportunidade única que a gente agarrou com todas as forças. Numa conversa antiga de WhatsApp nos lembramos que já sonhamos com arranjos do Verocai em discos nossos. Mandamos um email com duas faixas, “Apazigua” e outra que acabou nem entrando no “Paisagem”, segue guardada pra momentos futuros. Qual não foi a nossa surpresa quando a equipe dele nos respondeu de pronto dizendo que ele tinha interesse em participar e que já conhecia o grupo, enfim, papo de sonho.

E sobre o disputadíssimo Verocai especificamente, como foi gravar com ele?

Acho que muito por causa da conversa inteligente que ele sempre teve com as guitarras além das cordas orquestrais, era do nosso desejo antigo trazer Arthur Verocai pra perto. De viver um pouco da visão moderna que ele tem da música, de como ele pensa arranjo. Ao vivo, olhando dos nossos olhos, ele disse “topei porque deu pra ver que vocês fazem música com o coração”. Foi um prêmio. Quando a gente olha pra carreira de um artista da expressão valiosa de Arthur Verocai que está sempre na frente, sempre adiantado no tempo com um pensamento musical moderno, evolutivo, provocativo, algumas vezes incompreendido, subestimado, faz sentido a gente querer estar perto pra aprender, trocar, engrandecer nosso pensamento. Participar da gravação dos arranjos com ele, assistir ele passear por “Apazigua” como quem compõe junto, conversa com o arranjo posto, foi uma experiência impressionante, dessas de guardar pra vida.

É também uma maneira de voltar o olhar do nosso público pro que veio antes. Na época do lançamento do “Paisagem” lembro de um momento de discursos de pioneirismo na internet protagonizados por artistas ainda de idade tenra na música brasileira e sentimos um pouco dessa necessidade de sinalizar pro nosso público que não é bem assim. O que fruímos hoje na música brasileira é fruto de muita pesquisa, insistência e profusão artística de muitos outros artistas que vieram antes de nós, estabelecendo linguagens, métodos, investigações poéticas muito ricas. O que vivemos hoje é o desdobramento de uma antiga construção.

Bom, agora vocês estão lançando “Quem Eu Quero Ser”, álbum voltado pro público infantil. O que mudou no processo criação de vocês?

O que muda é o objeto de estudo. Precisamos nos debruçar sobre as nossas infâncias e nossas experiências anteriores com educação e literatura pra recuperar os assuntos do álbum. Também nos demos um pouco mais de liberdade estética pra surfar em outros mares - dub pra trazer frescor e diversão, j-rock pra recuperar nossa relação com a entrada de desenhos japoneses na nossa infância, um pouco do rock britânico dos anos 80 (The Police, Tears For Fears) pra representar o que tocava nas rádios quando éramos crianças, algo de experimental pra lembrar os sabores de Bjork nos nosso primeiros relacionamentos com canto e composição… Acho que fizemos com muito menos pressão, muito mais brincadeira, muito menos auto cobranças, ainda mais liberdade.

O que vocês usaram como referência para este disco? O que ouviam quando criança ou aqueles que fizeram trabalhos voltados pro público infantil?

Quando demos início às pesquisas fomos entender o que estava sendo produzido pra esse público em específico e ficamos bastante surpresos com o volume de conteúdos literais, de um didatismo mais superficial, ou movimentações pedagógicas duvidosas. Entendemos que exista uma oportunidade de recuperar um pouco do espírito que absorvemos no trabalho do Palavra Cantada, no Música de Brinquedo do Pato Fu, nas nossas memórias de Tv Cultura.

Também colocamos em prática um pouco do método que utilizamos quando trabalhamos com crianças enquanto educadores (trabalhei alguns bons anos num projeto da prefeitura de Curitiba como mediadora de Leitura, o Curitiba Lê. Layane conduzia oficinas musicais no projeto Ciranda quanto cursava Psicologia na UEL). Recuperar a lembrança de que o que nos aproximava desse público era a conversa horizontal, dividindo nossas histórias trazendo a garotada pra perto sem medo, foi de extrema importância pra nos deixar seguros no projeto. No fim das contas esse é um disco sobre infâncias. Quem escuta pode estar vivendo ela agora ou pode querer recuperar na memória como foi, o que importa é caber toda criança. As de agora e as de antes.

E as músicas vão ter espaço no show “tradicional” de vocês? Como estão pensando em fazer no ao vivo?

O “Paisagem” segue rodando o país em sua forma íntegra recuperando também muitos clássicos da nossa carreira. É um espetáculo denso, bastante apoiado nos desenhos de som e luz, impactante. “Quem eu Quero Ser” merece um espetáculo particular pra si, com mais delicadeza, com uma condução especial, voltada pra essa pesquisa em específico. Logo menos começamos a conversar mais sobre isso, mas ainda este ano vai ser possível assistir “Quem eu Quero Ser” ao vivo.

📡 NO RADAR
Porque o novo sempre vem.

crédito: Nino Franco

Depois do sucesso com seu álbum de estreia, Rachel Reis se prepara para um novo trabalho com previsão para 2025. Por enquanto já podemos sentir um gostinho do que está por vir graças ao single “Ensolarada”, música carregada de influências no afrobeat, com nuances de samba, reggae, country e amapiano.

Bom, enquanto o novo álbum não chega, sugiro a audição de “Meu Esquema”. Com 12 músicas, ela conseguiu imprimir identidade e mostrou a que veio. “Lovezinho”, a mais ouvida, tem um motivo para ter caído no gosto do público - é uma delícia.

🪩 A BOA!
Sempre uma sugestão 10/10 para você.

[RJ] O Vozes do Amanhã é um dos melhores festivais que já fui. Seu grande mérito está na curadoria e hospitalidade. Encontros inéditos e shows exclusivos somados à boa experiência no evento garantem a satisfação. Para essa edição estou bastante animado para ver o BK cantando Castelos & Ruínas com orquestra, FBC com a Banda Black Rio e a Roda do Pretinho da Serrinha com a participação da Maria Rita.

O Vozes acontece nos dias 12 e 13 no Museu do Amanhã. Compre seu ingresso aqui.

Salve! Aqui é o Pietro Reis, sou jornalista musical, apresentador, criador de conteúdo, assessor de imprensa e idealizador do Segue o Som.

Minha ideia com essa newsletter é reunir tudo de mais interessante que vem acontecendo no mundo da música e fazer o que mais amo, entrevistar. Sendo assim, toda segunda-feira você recebe um email com os melhores lançamentos da semana, um papo exclusivo, as principais notícias do meio musical e indicações.

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