SEGUE O SOM #20

Entrevista com Cristal | Pente Fino | Hodari mais...

SOS #20 | Meus 24 álbuns favoritos de 2024

Vocês tem acompanhado a série? Estou fazendo um vídeo para cada um da lista no meu Instagram e no TikTok também. Confesso que tá sendo muuuito cansativo, mas enfim, tá fluindo. Não deixe de engajar, ajuda muito :)

🪮 PENTE FINO
Seleção dos principais lançamentos da semana.

[EP] Marcelo D2 - Manual Prático do Novo Samba Tradicional, Vol. 1: Dona Paulete
O Marcelo D2 é pra mim um dos principais artistas de vanguarda no Brasil. Começou com rap com samba, depois samba com rap, e agora chegou na música eletrônica. Incrível o que ele tá fazendo ao misturar a batucada com o 808 pra criar algo inédito. Adorei o primeiro EP.

[single] WIU - Balanço de Rede
O WIU é outro cara que eu gosto muito pela capacidade de fazer misturar e procurar sempre fugir do lugar comum, sobretudo em uma cena saturada como do trap. No novo single ele canta sem autotune em uma faixa de amor e clipe super criativo.

[EP] Hodari - Pornstar
O EP que exala sensualidade! Diria que é uma mistura de The Weeknd, dvsn e até Marvin Gaye que deu super certo. Adorei as faixas, a atmosfera que o Hodari criou e a sua voz também. Acho que tá um espaço na música brasileira que carece desse estilo. Curti bastante.

[single] Alulu Paranhos - Voltei
“Fui embora pra deixar de ser reta e permanente feito fruta que apodrece e o que resta é a semente, e o que é que ela vai dar? Vai ser doce ou perigosa? É um mistério TÃO PROFUNDO, TUDO QUE INTERESSA AGORA!”

[single] Duquesa - Fuso
“Eu tenho a senha dessa cena / Duquesa é fenomenal”. Esse é o mood da faixa da artista que sabe que botou a cena do rap no bolso em 2024. Mais um single no estilo de Taurus Vol. 1 e 2. Que ano da Duq!

💬 ENTREVISTA EXCLUSIVA
Cristal: soul, soul, soul.

crédito: Josemar Afrovulto

O “Epifania”, da Cristal, marcou muito meu ano. Um disco de soul, fiel ao gênero e sem soar cafona. Ela soube se inspirar em nomes como Tim Maia, Cassiano e Sandra de Sá, ao mesmo tempo em que buscou dar uma atualizada na black music como conhecemos. O papo com ela foi incrível e você confere abaixo.

“Epifania” é, sem dúvidas, um dos meus álbuns favoritos de 2024. Me conta como foi o processo de decidir que faria um álbum inteiramente dedicado à soul music por favor.

A minha motivação foi principalmente interna, pessoal, de fazer alguma música que eu me identificasse. Não que eu não tivesse fazendo uma música que não fosse eu, autêntica, que eu tivesse uma identidade, mas eu sentia que o meu público estava um pouco desconecto do que eu, Cristal, o PF, pessoa física, consumia quando eu voltava pra casa, quando eu ouvia os vinis, os CDs, os DVDs de show e coisas que minha mãe e minha avó ouviam. E eu queria trazer essa identidade musical que me formou como artista nas minhas obras. O principal objetivo foi esse, foi resgatar, honrar, homenagear esses artistas que são referências pra mim.

No estúdio, como foi a sua dinâmica com MDN Beatz para fazer um disco que fizesse jus aos clássicos mas soasse atual?

Eu e o MDN somos primos, né? Então a gente sempre teve uma sintonia muito leve, muito natural, muito conectados, assim. A gente tinha uns gostos parecidos por vir da mesma família mesmo. Então o Cassiano já fazia parte do universo dele, do pai dele, enfim. Então tem inspirações que vieram do mesmo berço. Mas eu tinha essa preocupação em lá fazer paródias das músicas. Então a gente construiu um guia criativo. Eu construí uma tracklist com o nome já das músicas e falei, “eu quero que essa seja inspirada no tim, nessa tal música, nesse álbum, nessa discografia”. Então desde pegar uma discografia inteira até uma faixa solo, um refrão solo, uma batida ao instrumental, fui desmembrando os elementos de cada um dessas referências e tentando entender a identidade de “Epifania”.

Enfim, eu queria que fosse algo usasse os elementos antigos dessas referências, que tivessem a identidade deles: refrões, melodias, a forma de colocar voz, o drama, as histórias, as letras, mas ao mesmo tempo que a ideia é: como a gente faria música se tivesse no estúdio com esses caras? Quem seríamos nós? Eu não queria ser só uma tentativa de cópia, de paródia desses artistas, entendeu? Eu queria fazer algo único, mas realmente viajar nesse universo, voltar nos tempos e usar dessas vivências que eles mesmo falam, né, nas músicas, então, tava tudo ali, a gente só precisava mergulhar a fundo mesmo e entender o que a gente ia transformar aquilo.

Vi que você falou que tinha uma espécie de guia para cada música. Como funcionou isso?

Normalmente, o meu processo criativo é muito completo, ele vem muito tudo junto, sempre vem visual, melodias e letras, tudo meio ao mesmo tempo, não tudo de uma vez, mas ao mesmo tempo. Então, em “Quartzo”, no meu primeiro EP, eu fiz por cor, cada cor me remetia um sentimento, realmente, algum cristal e uma energia, então eu já sabia a temática de cada música.

Em “Epifania”, eu entendi que era uma narrativa de encontrar a minha voz. E é uma narrativa viva porque eu realmente não tinha segurança da minha voz. Eu ainda estou aprendendo e descobrindo o que é a minha voz, cantando por inteiro. Mas eu queria que todo mundo sentisse esse processo. Então, eu já tinha o início e o meio e o fim para a tracklist, só fui encaixando as vibes e o sentimento que eu queria passar.

Então, “Estrela” tem, por exemplo, tem muita influência de Tim Maia, tem muita referência de Earth, Wind & Fire, “September” né, clássico. E a poesia total de Tim Maia, de motivação né, de “Acende o Farol”, enfim, “Redial” também tem ref do Tim Maia: a batera principal que foi o Duda Rau que produziu. Essa sofrência pelo amor também, essa coisa gritada, com toda voz do corpo assim, sabe, declamada. Então todos tinham uma referência e uma direção de uma identidade do artista, foi nesse ritmo assim.

Você falou bastante das referências das antigas para esse trabalho, mas quem foram os nomes contemporâneos que te influenciaram também?

Cara, os nomes contemporâneos foi total, assim, Anderson Paak. Demais, demais, demais, demais. Silk Sonic, em geral, os dois, o Bruno Mars e o Anderson, mas o Anderson Paak, principalmente, porque eu amo a forma como ele consegue explorar toda a versatilidade dele em vários projetos. E ele traz essa coisa de um som antigo, mas ao mesmo tempo novo e moderno. E ele tem outros grupos, NX Warriors, uma dupla com outro produtor. E eu simplesmente amo todas as produções deles. E a forma como ele coloca a voz, aquela voz meio rasgada, meio falada, e ao mesmo tempo muito melódica. Então, eu me identifico com o timbre dele também. Enfim, estou desconstruindo algumas coisas em mim e ele é uma grande ref dos nomes contemporâneos pra mim.

E com certeza contemporâneos, não dessa mesma geração de Jorge Ben e tudo mais, mas o Mano Brown, que não é meu contemporâneo, ainda é, pra mim, é uma grande referência ancestral, posso dizer assim, mas com Boogie Naipe foi tipo assim, um cara que é uma referência do rap nacional, ele tem essa imagem mais consolidada e fazer um álbum do jeito dele, da sonoridade dele, soltando a voz, cantando melodias e músicas de amor, pra mim é revolucionário e eu achava que eu não queria esperar pra poder fazer o que eu gostava, sabe? Isso é a minha maior referência do rap. Boogie Naipe é lindo, é cheio de melodias, elementos incríveis, eu queria poder ter a mesma sensação nesse meu momento e ele me inspirou muito nessa coragem de viver o que se ama, enfim.

📡 NO RADAR
Porque o novo sempre vem.

crédito: Bruno Batista

Lembro quando o Hodari apareceu. Era 2018, auge das Poesias Acústicas e pela primeira vez teve um trecho de alguma música já gravada - neste caso, o Poesia 5, meu favorito. Ele cantou um trecho de “Teu Popô”, primeiro single de trabalho dele e que encaixou perfeitamente. Desde então foram poucos lançamentos, mas sempre muito interessantes.

Bom, na última quinta-feira (12/12) ele chegou com “P*RN STAR", um EP que exala sensualidade e me cativou já na na faixa-título, a primeira. Me lembrou bastante o dvsn e algumas fases do The Weeknd, mas claro, com o molho brasileiro. A produção é incrível e adorei o uso dos sintetizadores. Segundo o próprio comentou no Instagram, “a inspiração [do EP] veio dos lugares que mais testemunham histórias de amor e desejo: os motéis de centros urbanos”.

Salve! Aqui é o Pietro Reis, sou jornalista, pesquisador musical, influenciador e criador do Segue o Som.

Minha ideia com essa newsletter é reunir tudo de mais interessante que vem acontecendo no mundo da música e fazer o que mais amo, entrevistar. Sendo assim, toda segunda-feira você recebe um email com os melhores lançamentos da semana, um papo exclusivo, as principais notícias do meio musical e indicações.

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