SEGUE O SOM #26

Entrevista com 2ZDinizz | Pente Fino | Afrodite BXD e mais...

SOS #26 | Viram a publi com Spotify?

Sábado agora soltei uma colab com Spotify Brasil - apenas o primeiro conteúdo que faço pra eles. To feliz demais com isso! Feliz também que o resultado foi ótimo. Aliás, olha que legal, se você procurar no google por “bk diamantes lagrimas e rostos para esquecer” vai ter uma surpresinha, olha só:

🪮 PENTE FINO
Seleção dos principais lançamentos da semana.

[single] Rema - Baby (Is It A Crime)
Estrela global da música nigeriana, ele conseguiu autorização para samplear Sade e finalmente lançou essa pedrada. Caso não conheça o seu trabalho, o single é uma boa entrada.

[single] L’Impératrice - ENTROPIA
Essa é pra dançar! Riffs de guitarra, bateria pulsante e vários efeitos garantem 6 minutos de uma música impossível de ficar parado.

[álbum] Afrodite BXD - Vibes
Destaque no “Nova Cena” da Netflix, a Afrodite BXD lança seu primeiro disco. Assim como mostrou no reality, mostra rimas bem fora do comum e flows originais.

[single] Vinny Santa Fé ft. Jorge Aragão - Frescor
Vinny Santa Fé é um exímio compositor e convocou o maior de todos eles para o acompanhar no seu novo single, “Frescor”. A música tem lindas melodias e a letra chama bastante atenção.

[single] Josyara ft. Pitty - Ensacado
Cantora, compositora, produtora e instrumentista de Juazeiro, Josyara convida a conterrânea Pitty para uma canção bem profunda, composta há 46 anos no primeiro álbum de Cátia de França.

💬 ENTREVISTA EXCLUSIVA
2ZDinizz: “O boom bap é a raiz do Rap, é onde tudo começa”

crédito: divulgação

Minha primeira audição de “Patrono” já me deixou de queixo caído. O disco conta a história do 2ZDinizz, mas costurado pela interação dele com uma figura mais velha que serve para guia-lo pelas aventuras da vida. O álbum é também uma ode ao boom bap e não faltam rimas e batidas de respeito. É certamente um dos meus favoritos de 2024 e que melhorou depois da ideia que troquei com o artista. Leia abaixo.

Antes de falar do seu disco, gostaria de saber um pouco mais de você e como foi pra chegar até ele. Como foi o seu processo de se entender como MC, ver que era bom nisso e decidir seguir esse caminho?

Foi um processo difícil, começou na escola. Eu tinha uma bicicletinha toda enferrujada, ia e voltava com ela da escola ouvindo música todos os dias num mp3. Isso e andar de skate ouvindo música me fez dar muita atenção ao Rap. E lembro até hoje que ouvindo “Só isso”, do Emicida, eu pensei: “será que eu consigo escrever uma letra?”. Aí foi onde tudo começou. A partir daí, são 13 anos fazendo Rap... já fui do freestyle, mas realmente me apaixonei pela letra escrita.

E, sendo sincero, foi difícil me entender como MC. Acho que eu faço isso todos os dias, porque eu flutuo muito entre samba, rap, bossa, mpb e alguns outros gêneros. Então eu demorei a entender que eu sou um mano versátil, porque a versatilidade é uma habilidade que, se não for organizada, pode te deixar meio que sem uma “identidade”. E, graças a Deus, eu achei a minha nas letras, então hoje eu acredito que possa rimar em qualquer gênero, já que o meu diferencial eu busco na caneta, em entregar o meu melhor ali.

Quais artista mais te influenciaram? Dentro e fora do rap.

Deixar um salve especial aos Racionais Mc’s, que foram meus pais de ouvido nas ruas. Mas atualmente: BK, Seu Jorge, L7, Leall, Sant, Sain, Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho, Xande de Pilares, Emílio Santiago, Beth Carvalho, Arlindo Cruz, Jorge Aragão e muitos outros. Sou muito do samba!

Agora me diz sobre o processo de criação e composição de “Patrono”. Ele é mais que um disco de estreia, tem um conceito muito bem amarrado. Por que usar um interlocutor para ajudar a contar a sua história?

Porque é minha vida real. Eu aprendo vivendo e ouvindo histórias. O Patrono que fala no álbum, o Zé Geraldo, é pai de um amigo meu e está presente na minha vida há mais de 15 anos, ele sempre me ensinou muita coisa. Muita gente não sabe que não é um ator. Ninguém ali está atuando, por isso soa tão real para as pessoas.

Patrono foi um disco pensado do começo ao fim, porque quando meu produtor me disse: “você precisa de um disco para se firmar na cena”, eu disse: “suave, mas vai ser um disco que retrate a minha vida por completo”. E começamos a pensar sobre a minha vida pra chegar ao nome, e a primeira palavra que falamos no brainstorm foi PATRONO, porque nas escolas de samba a palavra “PATRONO” é muito frequente. E quando isso me veio à cabeça, foi algo que eu pensei: “Patrono é o que eu quero me tornar daqui 20 anos”. E aí comecei a destrinchar minha vida em várias pequenas coisas que permeiam todo o álbum.

Quando eu olhei para todas elas, eu pensei: “qual o ponto universal entre elas?” e cheguei à conclusão: “mesa de bar”. Nem tudo acontece numa mesa de bar, mas tudo é falado lá. Acho que a mesa de bar é o divã mais democrático do brasileiro. E como eu sou um cara muito da boemia e do samba, não tive tanto essa referência paterna, busquei muito aprender nesse ambiente. Naturalmente, quando veio a ideia da mesa de bar, eu pensei na conversa ir explicando todo o álbum e também a minha vida. Ai eu só liguei pro Zé, expliquei e falei: “Tem coragem de gravar o álbum comigo?!”, e ele me respondeu: “Garoto, eu vou roubar a cena ahahhahaha”. Ele é foda... kkkkk

E por que você acha importante levantar a bandeira do boom bap?

Não é uma bandeira, é a raiz. O boom bap é a raiz do Rap, é onde tudo começa. Eu gosto de todos os subgêneros da nossa cultura, mas o boombap mexe com a minha alma. Eu aprendi a rimar na rua com o boom bap, ouvi e ouço boom bap todos os dias. Na minha opinião, o trap é muito foda, acho incrível a capacidade dos artistas do gênero de fazer uma vibe tão boa, mas tão boa, que toque em qualquer lugar e de uma maneira tão democrática.

E existem traps e traps, que passam visões muito fodas, tem ótimos letristas no gênero. Mas, pra mim, o boom bap é combustível. Não sei explicar, parece que ele me move. E numa era hoje cheia de ansiedade, de imediatismo acelerado, de “parecer mais do que ser”, acredito que muita gente precise dessa identificação que o boom bap gera e desse norte que ele aponta. Afinal, o que nasce e cresce sem passar pela raiz, se torna artificial. E eu não tô falando só de Rap.

Não posso deixar de falar de “Coisas Que Não Aprendi Contigo”, uma música muito emocionante sobre aprender as coisas na marra, sem a figura de um pai. Fala um pouco da inspiração pra escrever ela e como você se sente vendo que tanta gente se identifica.

É muito doido o que essa música me gera... eu escrevi essa música depois da minha primeira sessão de terapia com minha psicanalista (te amo, Sylvinha). Ela me perguntou sobre o meu pai, sobre essa falta e o sentimento que isso me gerava, e eu não soube falar, não consegui. E aí ela me falou a seguinte frase: “Quando a boca se cala, falam-se as pontas dos dedos. Escreve, usa seu dom e organiza seus pensamentos”. E isso mudou a minha vida. Comecei a escrever a música pensando em ser a primeira e última conversa que eu teria com meu pai biológico. A partir daí, foi muito natural. Porque acredito que, como todo filho, a gente quer contar nossos medos, nossas neuroses, nossas dúvidas, nossos traumas e buscar no “Pai” o porto seguro, a certeza e a proteção.

E ver a música que fala sobre todas as minhas vulnerabilidades estar emocionando milhares de pessoas é muito doido, porque só me mostra como eu não tô sozinho. Essa música fala sobre a vida real, aquela que normalmente a gente não conta pra ninguém. E ela tem tantas camadas que acredito que todo mundo foi fisgado pela letra por algum motivo diferente. Alguns pela falta paterna, outros pela dúvida, outros por verem a mãe apanhar, outros pelo verso dos Racionais. Enfim... é muito foda ver que essa música acessa o sentimento mais genuíno das pessoas, ao ponto de fazer sair dos olhos o que às vezes tá guardado na alma. Espero que essa música chegue em muito mais pessoas.

📡 NO RADAR
Porque o novo sempre vem.

crédito: @lyzaoliv

Lembro quando escutei “Me Desculpa Veigh” e fiquei completamente impressionado com o talento da Afrodite BXD. Cria de Nova Iguaçu, ela foi apresentada ao Brasil no reality “Nova Cena” da Netflix, onde mostrou que é diferenciada. Agora, a artista está lançando seu primeiro álbum, “Vibes”, e serve como exemplo para mostrar que as minas tem feito os melhores raps ultimamente. Vale muito a pena tirar um tempinho para conhecer o trabalho dela.

A faixa foco é “Chocolate Quente”, parceria com a rapper Tonny Hyung que vem para questionar o status quo e mostrar o poder das minas. “Ser uma artista independente não é fácil, e ser independente e mulher negra é ainda mais difícil. Por isso, fico muito feliz de ter a faixa de trabalho com uma pessoa como a Tonny. Ela sabe tão bem quanto eu, ou até mais, como é difícil ser mulher no rap. Por isso, viemos com essa faixa, que exala irreverência”, destaca Afrodite.

Salve! Aqui é o Pietro Reis, sou jornalista, pesquisador musical, influenciador e criador do Segue o Som.

Minha ideia com essa newsletter é reunir tudo de mais interessante que vem acontecendo no mundo da música e fazer o que mais amo, entrevistar. Sendo assim, toda segunda-feira você recebe um email com os melhores lançamentos da semana, um papo exclusivo, as principais notícias do meio musical e indicações.

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Revisão: Karoline Lima