SEGUE O SOM #27

Entrevista com Yan Cloud | Pente Fino | e mais...

SOS #27 | Another one!

Sexta rolou mais uma colab com Spotify Brasil. Tô bem feliz porque é um posicionamento de responsa e um feito importante. Já foi lá comentar na publi?

🪮 PENTE FINO
Seleção dos principais lançamentos da semana.

[single] Jorge Aragão ft. Thiaguinho - Elixir
A canetada do homem é diferente! Jorge Aragão segue à pleno vapor e lança uma bela composição com ótimo feat do Thiaguinho. A combinação das vozes combinou bastante.

[single] Raveena - Sun Don't Leave Me
Esse é o primeiro lançamento da Raveena depois de “Where The Butterflies Go In The Rain”, disco que destaquei algumas vezes aqui. Confesso que por vezes acho suas músicas bem parecidas, mas sempre acabo gostando bastante.

[single] AJ Tracey ft. Jorja Smith - Crush
Não sei dizer quantas vezes o trecho da Jorja Smith no grime passou nas minhas timelines, mas a verdade é que tem um motivo pra isso. Ela amassa em qualquer ritmo.

[single] Addison Rae - High Fashion
Confesso que não estava ligado na Addison Rae, mas fui impactado pelo seu novo single e gostei bastante. Em “High Fashion” ela canta sobre amor, conquista e moda e lembra um pouco a pegada da Britney Spears.

[álbum] Froid - O Veneno do Escorpião V.2
“Esse segundo disco é mais intimista, feito para refletir o momento que estou vivendo. Além disso, ele é muito mais orgânico do que eletrônico, pois levamos os instrumentos (para o estúdio) para gravar e criar algo mais vivo”, conceitua Froid.

[single] Gabi Melim ft. Duda Beat - belo horizonte (metade de mim)
“Quando eu estava escrevendo, queria o frescor de uma relação onde você se valoriza e não aceita menos do que você merece”, disse Gabi.

💬 ENTREVISTA EXCLUSIVA
Yan Cloud: “Quem seria Fela Kuti aqui em Salvador? Seria o Lazzo Matumbi”

crédito: Tercio Campelo

”AFROSSA” foi um dos álbuns mais interessantes que escutei recentemente. Nele, o Yan Cloud parte do seguinte questionamento, “E se o afrobeats tivesse nascido em Salvador?”. A partir daí ele começa uma viagem pelos ritmos diaspóricos e aproxima África do Brasil, especialmente sua terra natal, passeando pelo pagodão, samba-reggae e o próprio afrobeats. Bom, trocamos uma ideia bem legal e suas respostas foram ótimas. Confira!

Yan, seu trabalho chegou para mim por meio do “AFROSSA”, um álbum muito interessante que parte da conexão entre África e Brasil. Me conta um pouco sobre a sua ideia e o que você queria com ele.

A ideia surgiu porque eu e Zamba estávamos ouvindo muito afrobeats em 2019 e a gente ficava nessa resenha: “massa, parece muito Salvador, tem muito a ver com Salvador, parece a clave do Olodum, parece a clave de um samba reggae”. E sempre brincamos com essa onda de não tentar fazer um tipo de música, sabe? Fulano de tal tentou fazer um pagodão, mas as pessoas não conseguem fazer um pagodão tal qual um baiano faria, sabe? Porque é um som daqui, tem a vivência, isso tudo faz com que o som seja o que ele é, as pessoas, a cidade, enfim, a cultura local. Então a gente pensou: “po, véi, a gente quer fazer um álbum de afrobeats e que deixe nítido que a gente tem a referência do afrobeats, porém, trazendo esse paralelo pra Salvador”, tá ligado?

Quem seria Fela Kuti aqui em Salvador? Seria o Lazzo Matumbi, pelo discurso político, pela musicalidade. O amapiano seria tipo quem em Salvador? Seria tipo o pagodão, tá ligado? Que os timbres são meio dark e falam sobre a quebrada, sobre a vivência, e tem os comandos de dança, e tá muito ligado uma coisa com a outra, então a gente tentou brincar com isso, trazer o paralelo de o que seria e como seria feito o afrobeats aqui em Salvador. Daí a gente começou a pesquisar sobre samba reggae, sobre as claves que tem no pagodão e como isso conseguiria ter uma liga que fosse interessante, misturando com as referências do afrobeats em Nigéria que a gente tem.

Suas vivências não musicais em Salvador influenciaram nesse álbum também? Se sim, como?

Totalmente. Assim como na musicalidade, eu tentei trazer muito um dialeto baiano, da quebrada, porque normalmente a gente usa gírias que vêm de São Paulo, do Rio de Janeiro e esquece um pouco das gírias daqui, porque a gente tenta deixar a música “Brasil” e vai esquecendo que tem a nossa própria linguagem, sabe? E Salvador tem muito isso, o vocabulário de Salvador é muito vasto, a forma de falar é muito característica, então eu tentei trazer termos tipo “pivete”, “os pivete é puto”, que é um termo que a gente usa muito aqui, a gente não usa “mano”, sabe? Então isso da minha vivência de ter nascido num bairro periférico, ter sido criado até meus 23 anos em Sete de Abril [bairro de Salvador] me fez querer passar isso na música. Eu pensei: “quero que atinja outras pessoas, mas eu quero que quem é aqui de Salvador se sinta representado, porque nada mais justo do que um álbum chamado AFROSSA ter a identificação da galera daqui”.

Afrobeats, samba-reggae, pagodão e alguns outros ritmos diaspóricos compõem o trabalho. Quais foram suas principais influências musicais nesse processo?

O primeiro álbum de afrobeats que me marcou foi o “Lagos to London”, que é de Mr Eazi, um volume 2, que a capa é um ônibus amarelo. A primeira vez que eu ouvi eu fiquei de cara, porque eu senti a semelhança com Salvador, sabe? Eu ouvi e pensava assim: “véi, apesar de não ser daqui, tem muito a ver com o que a gente escutaria aqui”. Isso me abriu esse olhar e foi muito orgânico, eu gostar do som por identificação, sabe? Ouvir e falar assim: “rapaz, essa parada aqui me lembra alguma coisa”. Memória afetiva assim... Já o Perí foi uma parada que eu tava ouvindo bastante no processo, e Lazzo Matumbi também. Inclusive, eu conheci Lazzo pessoalmente nesse processo do álbum, a gente participou de reality show. E quando eu o conheci pessoalmente eu comecei a ouvir mais ainda, entender mais as paradas.

Outro álbum que me marcou muito foi um de Wizkid, “Made in Lagos”. Esse álbum também foi muito parte do processo, porque foi um dos álbuns que me chocou também. Eu fiquei: “caralho, muito maduro, muito bonito, muito swingada...” Eu acho que groove e swing é uma parada que a gente sempre busca nas músicas, né? Tipo, o povo tem que balançar, tem que fazer o povo dançar, mesmo que seja uma música que você vai dar uma ideia dura ou que você vai dar uma ideia mais suave, tem que balançar o corpo. Então, acho que esses álbuns de afrobeats me marcaram bastante, fizeram muito parte. E esses artistas, não um álbum específico, mas esses artistas... Lazzo Matumbi, Jauperí, Neguinho do Samba, que é o pai do samba reggae. Foram referências assim.

Os feats também são parte importante de “AFROSSA”. Qual critério você utilizou para chamá-los? E você chegou a “brifá-los” de alguma forma ou deu total liberdade para criarem?

Cada música foi de uma forma muito diferente. A de Lazzo eu tinha a letra toda, aí a gente foi pro reality show (que não saiu) e a proposta do reality era fazer um feat, eu mostrei essa música e ele amou, gravou a versão (que não foi lançada oficialmente), mas toda vez ele falava comigo: “véi, essa música tem que lançar”. E essa música surgiu porque eu queria fazer um desafio, eu pensei: “pô, eu sou um homem bi, mas as minhas músicas geralmente são nesse contexto heteronormativo”. Então “Desmonta” foi um desafio de não falar sobre gênero nesse lugar de ser pro homem e ou pra mulher, não importa, importa que é sobre amor a música. E foi massa ter Lazzo nesse contexto, porque essa música foi um dos meus primeiros testes de afrobeats e quando ele chegou foi muito marcante, uma interação muito massa.

Aí eu fui na Larissa Luz, eu falei como eu imaginava o primeiro verso, como tinha que ser o som e mandei pra ela a guia com a primeira voz, e ela terminou o verso dela. Com a Melly também foi massa, porque ela também entendeu muito a vibe do som e respondeu muito bem quando eu passei pra ela. Todos esses sons eu fiz muito tempo atrás, saiu em 2024, mas eu fiz em 2020/2019, sabe? Algumas músicas foram assim.

Por exemplo, a com o Rincon eu escrevi três/quatro anos atrás, morava com meu pai ainda, eu fiz o verso e pensei: “véi, esse som é a cara de Rincon, seria massa se ele colasse” e guardei pra mim, jamais imaginei que ia fazer um feat com ele. Numa ida minha pra São Paulo ele deu um salve, eu falei que tava na KondZilla, com o estúdio disponível, ele colou, fez o verso na hora e foi massa! Foram feats bem importantes. O feat com Rachel era uma música que eu escrevi com Zamba em 2020 e era outra brother nossa que cantava o verso, mas quando Rachel ouviu, ela pediu pra entrar, entrou e somou muito no som. Fora RDD e Zamba, que são feats que não colocaram voz, mas somaram muito nas produções, no álbum todo. Foram encontros muito orgânicos.

📡 NO RADAR
Porque o novo sempre vem.

crédito: divulgação

O JovemBlues é um artista de soul e R&B que lançou seu ótimo álbum de estreia em 2024, “A Suprema Voz do Blues”. Já na primeira audição eu já fui fisgado e senti bastante proximidade do dvsn, artista que gosto muito. Em horário comercial de segunda a sexta-feira o paulistano faz seu corre trabalhando como ajudante de obra no setor de refrigeração, tenta a vida de artista na madrugada.

“Tem que dar um jeito para conciliar. Muitas vezes, chego cansado em casa, mas tenho que abrir um projeto no PC, gravar, terminar alguma produção”, explica, em entrevista para a Billboard Brasil. À revista ele destaca o R&B norte americano como principal influência, especialmente nomes que marcaram época nos anos 2000. O álbum conta com participações de Hodari, Fleezus e Luiza de Alexandre. Minha música favorita é, sem dúvidas, “Voz de um Querubim”.

Salve! Aqui é o Pietro Reis, sou jornalista, pesquisador musical, influenciador e criador do Segue o Som.

Minha ideia com essa newsletter é reunir tudo de mais interessante que vem acontecendo no mundo da música e fazer o que mais amo, entrevistar. Sendo assim, toda segunda-feira você recebe um email com os melhores lançamentos da semana, um papo exclusivo, as principais notícias do meio musical e indicações.

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Revisão: Karoline Lima