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SEGUE O SOM #38
Entrevista com Alan Bernardes | Pente Fino | Joaquim e mais...

SOS #38 | voltei
Uma semaninha off e o povo já veio me cobrar na dm. Calma, vida, tá de boa.
🪮 PENTE FINO
Seleção dos principais lançamentos da semana.
[álbum] Luedji Luna - Um Mar Pra Cada Um,
Chique do início ao fim! Como era de se esperar, lindas composições, mas aqui a música toma o protagonismo. É aquele álbum feito pra degustar com calma.
[álbum] Hamilton de Holanda - Hamilton de Holanda Trio - Live in NYC
A vibe é semelhante aqui. Música pra quem gosta de música.
[álbum] Vários Artistas - ReNascimento
Lindíssimas interpretações para os clássicos de Milton Nascimento.
[single] TZ da Coronel - Odisseia
O cara amassou no ringue e ainda soltou um musicão desses.
[álbum] Irmãs de Pau - Gambiarra Chic, Pt 2
Olha, eu entendo que não seja pra todo mundo, mas acho que só ouvindo pra sacar.
[álbum] Tuyo - Paisagem (Acústico - Ao Vivo)
Ótimas versões do ótimo disco do trio.
[álbum] Silva - Encantado Sessions
Versões ao vivo de “Encantado”, que completa 1 ano.
💬 ENTREVISTA EXCLUSIVA
Alan Bernardes: o Menino Brasil

crédito: Raiany Black
Não canso de dizer nas minhas redes e veículos o quanto sou fã do Alan Bernardes e que todo mundo deveria ouvir esse cara. Dono de uma voz inconfundível e caneta genial, faz um ano que ele lançou “Menino Brasil", um dos meus 5 álbuns favoritos de 2024, trabalho que aborda a preservação da biodiversidade e a pluralidade da nossa cultura de forma magistral.
Alan, “Menino Brasil” completou 1 ano na última sexta-feira. Olhando para trás, qual balanço que você faz do lançamento desse disco?
Acho que o tempo tem sido muito gentil com esse disco. Essa coisa de ser artista independente faz com que sempre tenha alguém que ainda não ouviu. Então a cada tempo que passa, recebo relatos de como esse projeto tem emocionado e impactado positivamente tanta gente. Óbvio que a ansiedade tem vontade de chegar a todos potenciais ouvintes rapidamente, mas saber admirar esse processo é muito enriquecedor. É como se escrevesse um livro sem pular capítulos.
O álbum é, sem dúvidas, um dos meus favoritos de 2024. Uma das coisas que mais me surpreendeu foi ter a biodiversidade como principal temática, mas de um jeito cativante, criativo e original. Como foi o processo de buscar referências pra fazer este trabalho?
Ah, isso foi bem maneiro! Foi uma pesquisa muito prazerosa. Eu comecei com a ideia principal de fazer um disco apenas sobre o folclore brasileiro. Percebi que ainda não existia um projeto na música brasileira dedicado somente a isso, então comecei a pesquisar mais. Comprei livros de Câmara Cascudo e fiquei fissurado. Na mesma época eu estava lendo livros do Luiz Antônio Simas, então comecei a traçar um paralelo entre alguns arquétipos que se cruzavam entre o folclore e algumas entidades de religiões de matrizes africanas.
A princípio esse seria o tema inicial. Aos poucos fui entendendo que o projeto merecia ter mais histórias, e que eu não devia me prender somente a isso, porque tudo esta interligado. É quase impossível falar sobre esses assuntos sem enramar na biodiversidade. Então quando eu percebi, as letras já estavam num espectro de signos que considero muito relevantes pra identidade brasileira. Aí foi caminho sem volta, eu entendi o que seria o “Menino Brasil”, e quis me aprofundar ainda mais pra ter boas histórias no disco.
Uma delas eu imagino que seja o Luiz Antonio Simas, presente em duas músicas. Como se deu a parceria de vocês?
Meu primeiro contato com ele foi após um de seus aulões em lugares públicos. Eu fui na intenção de perguntar sobre músicas e bibliografias que abordassem o folclore e suas conexões com as religiões de modo geral. De cara ele não me indicou nada, mas trocamos contato. Fui refinando a pesquisa, e quando o disco ganhou forma, eu precisava de textos que ampliassem o sentido e não tive dúvidas em convida-lo pra participar. Mandei as músicas, ele gostou bastante, e logo depois surgiram os textos que gravamos e se tornaram vinhetas. Sou fã do Simas, ele é um escritor muito sensível, aborda temas que são de meu interesse desde sempre. Fiquei muito contente em ter essa parceria.
Nesse sentido, acho legal como você vê a arte como função social e meio de transformação. Qual disco, filme, livro ou peça que mudou sua vida ou a forma de ver o mundo?
Falando em vida, em trajetória como artista, alguns projetos me marcaram em diferentes fases. Mas alguns em especial serviram de farol. Discos como “capoeira de besouro” do Paulo César Pinheiro foi uma porrada. “Delírio Carioca” do Guinga foi outra.
Os livros do Simas em geral abriram muito minha cabeça tb, mas “o corpo encantado das ruas”, teve uma reverberação grande em mim. O “dicionário do folclore brasileiro” do Câmara Cascudo me fez pirar em mistérios que eu nunca nem tinha ouvido falar. “O importante é que nossa emoção sobreviva” do Paulo César Pinheiro, Eduardo Gudin e Márcia, foi outro marco pra mim. Nunca tinha ouvido letras tão lindas dentro de harmonias complexas e belas. O mais doido é que a captação desse disco é bem precária, gravado ao vivo, a muito tempo atrás, mas mesmo assim ele é perfeito. Uma obra de arte que me impactou bastante enquanto artista.
E olhando para o futuro, o que podemos esperar do seu trabalho? Algo mais natural como “Menino Brasil” ou artificial/tecnológico?
Eu ainda não sei exatamente o que virá. Meus amigos brincam que eu intercalo entre um disco mais orgânico, (que seja voltado pra canções) e outro com uma pegada mais digital, samples e elementos tecnológicos. Normalmente, eu me apego a um tema, título, e depois vou desdobrando as possibilidades em músicas. Confesso que ainda não fui arrebatado por nada nesse meio tempo. Pintam coisas aleatórias, tenho músicas mais tradicionais e outros que pulsam em linguagens bem modernas. Enquanto não encontro algo que una esses sons, elas vão sair como singles. Mas vamos ver o que vai rolar, tudo ainda pode acontecer…
🖇️ CLIPPING
Leituras que valem o clique.
📡 NO RADAR
Porque o novo sempre vem.

crédito: Livia Rodrigues
O cantor, compositor e instrumentista Joaquim tem 22 anos e chamou a atenção de Marcus Preto durante uma participação no show de Léo Quintella em junho de 2023. O produtor o conectou com a galera do Coala Music e o resultado é “Varanda dos Palpites”, um excelente álbum de estreia.
Entre as referências, Joaquim cita letristas dos quais acompanhou os lançamentos, como Tim Bernardes, Sophia Chablau, Paulo Novaes, Ana Frango Elétrico e Clarice Falcão. Ele também lembra de Beatles, Stevie Wonder, Elis Regina, Chico Buarque, Aldir Blanc, Os Mutantes. Além de Angela RoRo, homenageada no álbum com uma versão de “Fogueira”, e Rubel, que participa do disco na faixa “Falta”. Desses nomes você já consegue pegar a vibe do disco.
“Nos interessava nesse álbum imprimir, de alguma forma, a sonoridade do meu voz-e-piano ao vivo em um arranjo de banda gravado. Acredito que as escolhas dos integrantes da banda e gravar a cozinha simultaneamente, somadas às mixes e masterizações sublimes de Tó e Felipe, foram dorsais pra chegar nisso”, diz Joaquim.

Salve! Aqui é o Pietro Reis, sou jornalista, pesquisador musical, influenciador e criador do Segue o Som.
Minha ideia com essa newsletter é reunir tudo de mais interessante que vem acontecendo no mundo da música e fazer o que mais amo, entrevistar. Sendo assim, toda segunda-feira você recebe um email com os melhores lançamentos da semana, um papo exclusivo, as principais notícias do meio musical e indicações.
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Revisão: Karoline Lima