SEGUE O SOM #41

Entrevista com Samuel de Saboia | Pente Fino | Pedro Emílio e mais...

SOS #41 | Muita gente chegando aqui :)

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🪮 PENTE FINO
Seleção dos principais lançamentos da semana.

[álbum] Don L - Caro Vapor II - qual a forma de pagamento?
Fortíssimo candidato a álbum do ano. Meu dia se fez mais feliz com esse lançamento.

[álbum] Luedji Luna - Antes Que a Terra Acabe
Luedji nos presenteou com um disco surpresa, diferente do anterior, com muitas camadas e que a posiciona em uma prateleira bem alta na música.

[EP] Ney Matogrosso - Pássaro Branco
O EP apresenta quatro músicas inéditas que fazem parte do balé “Entre a pele e a alma”, espetáculo encenado pela Focus Cia de Dança sob direção de Alex Neoral.

[EP] Natascha Falcão - Universo de Paixão II
Entre pagode e axé, a cantora entrega mais um bonito EP para a gente curtir no clima de São João.

[álbum] Orochi - Eu Odeio o Dia dos Namorados
Não vou mentir pra vocês e dizer que escutei, mas eu gosto do Orochi. A com o Ret é maneira.

[single] Celo Dut ft. Melly - Só Você
Canção para celebrar o amor lançada no dia dos namorados. Bem gostosa.

[single] Kehlani - Folded
Ela tem o molho.

💬 ENTREVISTA EXCLUSIVA
Samuel de Saboia: avant garde

crédito: Rafael Pavarotti

A entrevista tá tão boa que não precisa de introdução. Deliciem-se:

Samuel, primeiro conheci seu trabalho enquanto artista visual e sinto que já tinha chegado tarde para a festa. Apesar de novo, você é super renomado no meio da arte e conhecido no mundo todo. Resume aqui sua trajetória enquanto pintor? Tarefa difícil, eu sei, mas pra gente conhecer esse seu outro lado também.

Minha vida enquanto pintor se inicia em Recife. Eu criava dentro de casa, tinha esse espaço ali onde o meu quarto as telas, às vezes, se confundiam de uma maneira absurda. Eu sempre gostei de pintar perto de onde eu durmo porque me ajuda com o ímpeto, com a vontade, aquela coisa de acordar no meio da madrugada com a ideia, e saber que aquela é a hora de agir. Então, isso acontecia muito. Eu começo com 10 anos de idade ali fazendo enquanto criança; 14, 15 eu tenho uma noção muito breve de mercado; 17 em diante eu já estou expondo no mundo.

Eu fui muito auxiliado acho que de uma maneira espiritual também e com a noção de que eu precisava me lançar perante as pessoas, perante as oportunidades, então eu sempre fui uma pessoa de mandar muitos e-mails, muitas mensagens nesse começo para poder chegar onde eu queria, para poder acessar as pessoas da maneira como eu precisava. E aí depois de um certo tempo eu consegui chegar numa gama bacana de curadores - um deles acabou criando essa oportunidade da exposição solo em Nova York quando eu tinha 20 anos. E a partir da eu tive minha carreira ta onde a partir dessa primeira exposição solo fora do Brasil. Eu volto mais especificamente pra São Paulo com renome e com a possibilidade de existência muito maior do que antes e isso fez com que minha carreira se desdobrasse em outras direções.

Com 22, 23 eu já estava em total ativo enquanto um artista de trabalho em renome mundial. E com 27 eu carrego hoje em dia coisas muito bacanas - inclusive recentemente me tornei parte da coleção oficial do LACMA e também um dos únicos brasileiros dentro do Museu Thyssen com a exposição que estreia em 2026, assim como o Minha Solo no Fala Santander. É muito massa porque enfim eu tenho escolhido existir dessa maneira e tenho trabalhado para que minha arte realmente cresça e se reproduza e se instale da maneira como meu coração deseja e é magnífico ver isso acontecer.

Dentro também do meu trabalho com moda ela se junta com um mercado que olha pra arte de uma maneira muito interessante. Minha mais longa contribuição tem sido com a Comme des Garçons do qual eu já assinei algumas campanhas, tenho uma linha de perfume e hoje em dia tenho esse trabalho próximo da marca, criando, inventando e fazendo o que der na cabeça.

Bom, corta pra 2025. Você anuncia sua carreira como cantor e compositor. Essa já era uma vontade antiga? Como foi esse processo de explorar mais um lado seu?

Essa vontade sempre existia de uma maneira ativa dentro dos meios que eu estava. O lance é que com a pintura eu acabava ficando muito tempo em salas fechadas. Então eu não tinha esse acesso ao outro com tamanha facilidade. Então eu fiz esse plano, que a partir do outro que eu tivesse como fazer isso acontecer, eu iria sim fazer um álbum, fazer alguns álbuns e acessar as pessoas de outra maneira. Foi assim.

E aí eu fui juntando grana, tempo, espaço, desenvolvendo voz, entendendo onde eu conseguia chegar com aquilo que sai do meu corpo e a partir de três anos atrás, ali por volta de 2023, a gente já tava em ativa com meu grupo de amigos criando coisas em casa mesmo, brincando de música. Mas quem me conhece já de Recife sabe que eu sempre cantei e que eu sempre inventei o lance era mesmo o tamanho, né? Eu queria algo muito mais assertivo e maior, então eu fui criando o ambiente necessário pra poder existir da maneira que eu quis enquanto músico, como eu existo agora.

Eu pego a lei da arte, a estrutura e com a música eu tenho outro espaço de liberdade, eu acho que eu chego pro outro acesso com as pessoas. A música acaba sendo um tanto menos subjetiva porque eu tô ali em corpo e em voz. Eu sou uma pessoa que se mexe, que dança, que se expressa. Então existe esse tesão também de estar ali em uma maneira palpável. E aí é isso, tem sido uma coisa muito engraçada porque eu percebi que talvez a presença e a maneira de ser já estavam ali, eu só ainda não sabia o que fazer com essa energia toda. Agora eu sei.

Por acaso, quando fui impactado pelo seu primeiro single, “Rei de Nada”, decidi que veria com o clipe. Confesso que são muitos lançamentos e nem sempre consigo dar a atenção devida, mas por algum motivo soltei o vídeo na TV e simplesmente fiquei hipnotizado. Eu e minha namorada nos emocionamos mesmo sem nenhum contexto. Me conta um pouco sobre essa música por favor? Sinto que de certa forma ela exprime muito bem o que você trabalha no álbum.

“Rei de Nada” é meu presente. Acontece ali em Salvador, dentro do meu antigo ateliê, na direita de Santo Antônio. Eu tinha dentro desse ateliê um piano que estava completamente, alucinadamente desafinado, e foi engraçado porque eu estava tocando nele, só brincando assim, com lá menor, com fá sustenido, e aí teve um momento onde eu mexendo ali e vendo quão desafinado estava meu piano, eu comecei a cantar: “eu desafino amor, quando eu não quero ter dor”. E aí rapaz, foi tudo saindo.

É muito engraçado que é assim também que acontece com muitas minhas composições. Eu me dou um ritmo, algum amigo toca alguma coisa, simplesmente, já tem as histórias aqui dentro. “Rei de Nada” é um acúmulo, ela é um cartão postal de onde eu estava mentalmente, fisicamente, espiritualmente naquele momento. Ela é aquilo que acontece quando dentro do peito já não cabe mais as coisas que querem ser ditas, e aí ela existiu. É uma música complexa, assim como videoclipe, tem muita da minha vida ali, mas ao mesmo tempo tem esse olhar editado, essa escolha do que é o protagonista dentro de todos os sentimentos.

Falando nele, “As Noites Estão Cada Dia Mais Claras” tem um quê de psicodélico, mas ao mesmo tempo bastante relacionável, tangível. Qual foi o denominador comum pra montar esse trabalho?

É engraçado porque o denominador comum do álbum sou eu. As pessoas que convivem sabem que, assim, eu não tenho essa coisa dos diferentes personagens, dos diferentes seres. Eu acho que é simplesmente mais uma evocação dessa mesma pessoa, mas que existe às vezes esse cansar, assim, dessa normalidade, daquele momento, daquela voz, daquela maneira de se vestir e eu só sou pra mim a outra forma de ser.

E o álbum ele é isso, é tipo: “Olha, tá aqui a loucura, a exuberância, a grandeza, mas também tá aqui a normalidade, a calma, a tristeza, a confiança, ou a falta de...” Eu acho que esse álbum acontece num momento de aprendizado onde eu tenho descoberto que não dá pra fingir felicidade por muito tempo sem que ninguém perceba. Então eu fui ali com aquilo que eu tinha de real, com todos os sentimentos que me são reais - tanto o momento da alegria, uma verdadeira alegria, depois do momento da tristeza, uma verdadeira tristeza - e ambos convivem sem se colidir.

Eu acho que também é esse o meu processo tanto de composição quanto de criação em “As noites estão cada dia mais claras”. Eu criei uma casa grande o suficiente pra que todo mundo caiba se vendo e se encontrando na hora das refeições, mas sem a necessidade de dormir um em cima do outro. É como se eu desse vazão e espaço e, além de tudo, importância, pra cada coisa que eu sinto e pra cada coisa que eu canto.

Você definiu o álbum como “rock brasileiro nordestino, antigo e novo”. Quem são essas influências nordestinas das antigas e da contemporaneidade pra você?

Olha, nesse lugar da galera, dessa coisa nordestina que me enche nesse álbum, eu posso com certeza citar a Cátia de França, Alceu Valença, Cordel do Fogo Encantado, Naná Vasconcelos. Acho que tem muito esse lugar daquilo que eu escutei, das pessoas que eu convivi, das coisas que eu vi essas pessoas fazendo, do tanto que eu ouvi ali com o ouvido atrás da porta. E são nomes que definem um tanto essa sonoridade, que me fazem chegar a um lugar de compatriotismo, mas também assim de confiança e de segredo, tem uma entonação que me enche, que me aquece. E dentro do espaço das influências novas, das contemporâneas, das existências do agora, eu posso falar de mim.

Da galera, dos meus contemporâneos, eu amo Jadsa, acho o trabalho de Giovanni Cidreira foda, acho a Julinha Linhares muito massa, a Bruna Alimonda também muito do caralho. Eu cresci ali em Recife ouvindo alguns amigos que sempre tocaram uns arranjos magníficos, e é isso. Eu fui tocado e fui abençoado por existir no mesmo momento que pessoas geniais. Existimos no mesmo tempo que Josyara, sabe? Tem muita coisa mágica acontecendo e eu fico muito orgulhoso de existir numa cena no período onde essa fonte inesgotável, ela não para de jorrar e nela eu me lambuzo, eu bebo e dou risada.

📡 NO RADAR
Porque o novo sempre vem.

crédito: Alexandre Toffoli

Não me recordo como esse álbum apareceu pra mim, mas, sem dúvidas, “Enquanto os Distraídos Amam”, do Pedro Emílio, foi uma das principais surpresas do ano. Destaque em um dos meus vídeos recentes, aparentemente muita gente amou também. A mistura de R&B, pop e indie feita por ele foi muito singular e deu super certo. Sobre o curioso título ele comenta: “Gosto de pensar que de qualquer conversa, existe a possibilidade de nascer uma música, um texto ou até mesmo uma frase intrigante. Eu dei atenção a distração das pessoas ao meu redor.”

Salve! Aqui é o Pietro Reis, sou jornalista, pesquisador musical, influenciador e criador do Segue o Som.

Minha ideia com essa newsletter é reunir tudo de mais interessante que vem acontecendo no mundo da música e fazer o que mais amo, entrevistar. Sendo assim, toda segunda-feira você recebe um email com os melhores lançamentos da semana, um papo exclusivo, as principais notícias do meio musical e indicações.

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Revisão: Karoline Lima